quarta-feira, 2 de junho de 2010

NÃO É PRECISO ENXERGAR PARA SENTIR !!!!


Esta é uma entrevista cedida por Karoll Sales, uma jovem deficiente visual determinada e vencedora que nos presenteou com sua biografia, provando mais uma vez que "Não é preciso enxergar para sentir" !!! Espero que gostem e desfrutem de mais uma lição de vida !!!

Você nasceu com deficiência visual? Conte-nos um pouco sobre sua História ... Como foi sua infância?


Karoll: Minha deficiência visual é de nascença, proveniente da Retinose Pigmentar, caracterizada como falta de circulação do sangue na retina. Nunca enxerguei mais do que um vulto mínimo. Minha infância foi bem agitada. Desafio sempre foi o meu sobrenome! Desde pequena eu me desafiava a superar qualquer coisa. Entrava e saía da corda enquanto ela estava girando. Andava de bicicleta. Com o pouco de vulto que eu enxergava, aproveitava e pedalava, sem medo de nada.

E na parte educacional como foi para você esta fase da Educação Infantil ao Ensino Superior?

Karoll: Posso classificar como dificílimo no começo, mais ou menos no meio e mais tranqüilo no colegial. Já na faculdade, com o advento da tecnologia, tudo se tornou mais fácil. Hoje sou formada em Letras e estou cursando pós-graduação em Acessibilidade. Com bastante dedicação consegui concluir os cursos de inglês e espanhol. No prezinho minha mãe chorava muito, porque vivia ouvindo das escolas que elas não estavam preparadas para me receber. Hoje afirmo, com segurança, que as coisas estão bem mais fáceis, embora admita que ainda há muito por fazer.


Existe alguma observação a ser feita, algumas dicas para os profissionais que trabalham com crianças com deficiência?


Karoll: A primeira observação que eu faço é para que esses profissionais saiam da defensiva e se disponham a ensinar, mas acima de tudo, que se permitam aprender. Pesquisar sobre as deficiências, abandonar o sentimento de dó, descobrir as eficiências desses alunos e se abrir para o novo são verdadeiras chaves para o sucesso entre o professor e o aluno que possui algum tipo de limitação física, sensorial, intelectual ou mental.

Atualmente quais os trabalhos que você realiza?

Karoll: Trabalho como Instrutora de Tecnologia Assistiva na AVAPE – Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência, onde analiso os recursos tecnológicos existentes para pessoas com deficiência, indicando os mais adequados para determinadas funções. Além disso, realizo testes com leitores de tela para pessoas cegas ou com baixa visão dentro dos contratos da AVAPE, para incluir essas pessoas no mercado de trabalho. Também realizo palestras de sensibilização e conscientização a favor da inclusão social. Trabalho também como Assessora em Comunicação na ONCB - Organização Nacional de Cegos do Brasil.

Como é para você a experiência de realizar palestras, participar de encontros, dar entrevistas?

Karoll: Para mim é sempre um delicioso desafio. Nessas horas eu aprendo muito. A cada encontro, a cada entrevista, a cada palestra, eu me sinto revigorada e feliz. Amo essa caminhada em busca do sucesso diário e crescente!

Qual o seu papel hoje com relação à sociedade?

Karoll: Procuro deixar uma sementinha positiva da boa informação em todos os lugares por onde eu passo, desde um transporte público na hora que alguém chega para me auxiliar, até uma entrevista veiculada na mídia falada ou escrita. Tento abordar as eficiências das pessoas com deficiência, colocando a minha deficiência e a de outras pessoas como apenas uma característica. Assim como um é moreno, alto e não enxerga, o outro é moreno, alto e enxerga... características, percebe? Digo que as pessoas com deficiência podem ser boas ou rins, carinhosas ou grosseiras, dedicadas ou desinteressadas...

Estamos num momento em que a questão da pessoa com deficiência está no auge. O que você acha disso?

Karoll: Acho extremamente positivo. É bom quando a mídia, veículo poderosíssimo de comunicação, preocupa-se em passar informações corretas e pertinentes sobre as deficiências e o modo de lidar com elas. Acho preocupante quando vejo em alguma novela um cego andando de bengala dentro de sua própria casa por exemplo, ou quando uma cega tem o dom de ler a alma das pessoas.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas pela pessoa com deficiência visual?

Karoll: Uma das maiores dificuldades, se não a maior, é a maneira como as pessoas de um modo geral enxergam as pessoas com deficiência visual. Muitas vezes elas nos tratam como pessoas surdas, ou mesmo como deficientes intelectuais, passando até por doentes mentais. Costumam não dirigir a palavra a quem não enxerga, falando com quem está acompanhando a pessoa; alguns chegam a duvidar que a pessoa cega sabe onde está e para onde quer ir. Isso gera barreiras atitudinais horríveis, que por vezes nos colocam em situação de maior limitação do que realmente possuímos. Outro grande problema são as barreiras arquitetônicas nos espaços urbanos: as pessoas acham que acessibilidade se resume em elevadores e rampas, e se esquecem que obstáculos desnecessários no meio do caminho, orelhões e lixeiras mal sinalizados, etc... atravancam demais a locomoção das pessoas com deficiência.

Defina quem é Karoll Sales.

Karoll: Extremamente determinada, amorosa, muitas vezes mais impaciente do que deveria. Gosto de arriscar fazer as coisas que no momento são importantes pra mim, sem medo de levar uma rasteira. Quando estou inspirada componho algumas músicas... Amo trabalhar em prol da inclusão social de pessoas com deficiência... Que mais? Se é pra eu fazer o que gosto, costumo dar o melhor de mim, the best of me.




KAROLL, RECEBA O MEU MUITO OBRIGADA PELA SUA COLABORAÇÃO COM O NOSSO BLOG !!! COM CARINHO RAQUEL FERNANDES