sexta-feira, 4 de maio de 2012

Alguém já ouviu falar em CODA ?De acordo com o Dicionário de Libras Coda Significa: (Children Of Deaf Adults) Filhos de pais surdos !!!


E este não é um caso isolado, Jeniffer Freitas (CODA) compartilha um pouco de sua experiência conosco !!!

Meu nome é Jeniffer Freitas, tenho dezenove anos, estudo Gestão Portuária, e sou assistente operacional no Tecondi, Terminal de contêineres do Porto de Santos.

Estudo, trabalho, namoro, malho, passeio... Nada de muito diferente do que se espera da minha idade.

Meus pais são surdos, e ambos tem irmãos surdos, que casaram-se com surdos, e possuem diversos amigos surdos. Desde pequena estou envolvida neste mundo, que para muitos é um tanto “incomum”. Sim, ainda há quem ache incomum, diferente, estranho.

Na escola, todos conheciam meus pais inclusive, minha professora do maternal ao jardim, que era intérprete de libras. Para mim, sempre foi muito normal. A primeira vez que percebi a diferença que existia entre os meus pais, e entre tantas outras pessoas, foi aos sete anos quando um grupo de surdos, da igreja que eu frequentava iria apresentar uma peça de teatro, em uma outra igreja. Os bancos da frente, como são comuns na maioria das igrejas que possuem ministérios com surdos, estavam reservados para eles, neste dia, antes de começar o culto, fiz amizade com uma menina e quando fomos para o templo nos sentar, eu disse para ela que os bancos da frente estavam reservados para os surdos. Eu me lembro claramente, que ela olhou pra mim pasma, e disse: “Surdo?...Não fala besteira, menina! Isso não existe!”, e saiu andando. Eu realmente, fiquei sem entender nada, e perguntei para minha avó porque ela reagiu assim, ela olhou para a menina e disse: “Tá vendo que ela usa óculos? Então, é porque ela não enxerga. Os seus pais não escutam, alguns não andam, outros não sabem o que falam.”, e foi quando eu aprendi uma lição muito importante... Todos somos deficientes, em algum aspecto, todos somos. Pode ser fisicamente, mentalmente, psicologicamente, e moralmente, mas de alguma forma, todos temos nossas limitações.

Eu acredito que tudo tem um propósito. Os meus pais são o presente mais precioso que Deus poderia ter me dado. Com eles aprendi a andar, a comer, a viver, e principalmente a amar. Quando eu era menor, eu não compreendia. Era difícil ter que ser a boca e o ouvido de duas pessoas, quando se é criança. Ás vezes eu tinha que atender o telefone, e tratar de assuntos que eu não entendia... banco, médico. As vezes eu tinha que ir em reuniões da minha própria escola. Ás vezes eu queria chegar em casa e gritar: “...Mãe, cheguei!!”.

Mas Deus é muito bom em tudo o que faz. Sempre fomos muito unidos, e a base que eles me deram, com certeza fez a diferença que muito pai ouvinte por aí deixa de fazer. Não financeiramente, mas os valores que eles me ensinaram valem muito mais. Educação e respeito, são os principais exemplos de ensinamentos que tive, e que pratico até hoje. Nunca vi diferença social ou racial em quem quer que seja.

Conheço diversas pessoas que enfrentam muitos problemas por não terem tido uma boa estrutura familiar, e isso não foi consequência de uma limitação física. Com todas as dificuldades, eles sempre trabalharam e lutaram para me proporcionar tudo o que não puderam ter e me ensinaram que a diferença está em quem vê, e não no que se vê.

Sempre fui ótima aluna, sempre tive boas notas, terminei meus estudos, trabalho, e este ano, se Deus quiser, realizo o sonho dele e me formo na faculdade, como ele sempre quis.

Agradeço a Deus todos os dias, por ter tido uma estrutura tão sólida, quanto a que eu tive, e que sempre podemos executar o nosso trabalho com excelência, independente das dificuldades.

Meu muito Obrigada, com todo carinho a esta amiga que prontamente colaborou escrevendo sua história para ser publicada neste Blog.

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